Pois que não vos poderia deixar,
sem com a palavra vos maldizer...
E se pelas costas me tentam vender,
Com guerra vos vou amaldiçoar!
Qual justiça, lenta ou cega?
Qual balança, justa ou divina?
Se estou ferrado, vocês estão mais!
E porquê? ...ninguém vê patavina!
Comigo levo o dinheiro do mundo!
Vós que pobres nascesteis, pobres deveis
ficar!
e não há merkels, chineses ou mourinhos
que vos possam cá vir salvar!
… e vós actores, cineastas, escritores?
… e
funcionários, professores e pescadores?
… e
idosos, doentes, carenciados?
Não sejam piegas!!! E mantenham-se calados!
Não me interessa onde essa gente vai parar!
Nem que leve Portugal à detonação.
O importante, meus caros, é renegociar
renegociar dívida até à exaustão!
Sem subsídios, sem apoios, sem descontos,
com impostos, com IVAs, com retenções.
Deixo-vos o país inteiro aos tombos
e a minha conta e render milhões!!!
Se não sei por onde vou… ?
Ahhh sei sim, não há que duvidar!
Vou encontrar onde trabalhem mais
e onde menos lhes possa pagar!
Deixo-vos um país sem ministério,
Mas certamente com uma capital!
E não há cá nenhum mistério:
“A cultura é um sector fundamental”!... [risos]
Deixo-vos a crise e o fim-do-mundo
e alguns importantes Passos para dar,
mas para levar dois de uma cajadada…
Ainda têm vocês muito que andar!...
De pastel em pastel de nata,
e com ajuda dos sentados em Belém,
só se criarem um negócio-da-China
conseguirão salvar o país deste desdém…
Ao jovem Centro de Memória,
deixo excelsas exposições.
Oh cidade chegou a hora
De abrir aos teus artistas os portões.
Ao Régio, poeta da cidade,
ai que tamanha felicidade!
Deixo um crucifixo em ouro, peça divina
… penhorado ali na loja da esquina.
E até que a crise nos separe
deixo-vos Santa Clara a apodrentar.
E mais uns incêndios para os bombeiros
não terem senão de pedir apoio familiar!
À Nuvem Voadora e demais associações,
sugiro que arregacem a manga,
e com esta meia-dúzia de tostões
queimem o Judas e quem nos dá tanga.
É este o testamento: poesia para sonhar?!?
Uma vila e uma juventude combalida,
a meias com uma nação totalmente falida
e um futuro novo para inventar!..
Está na hora das despedidas!
Mas não vou sem vos aconselhar:
não percam tempo Zé-Marias,
façam a mala e ponham-se todos a andar!!!
Judas, 2012
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